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Entrevista sobre Moda, Estilo e Paris com Valéria Doustaly

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Valéria Doustaly, AICI CIP, é argentina, trabalhou com marketing em multinacionais como L’Oréal e Hermès. Morou no Rio de Janeiro, em Paris, mas foi em SP que descobriu a consultoria de imagem. Logo ela juntou os conhecimentos adquiridos no curso de consultoria à sua experiência corporativa, dando workshops sobre a importância da imagem profissional.

E desses workshops saíram seus primeiros clientes, até que em 2014 ela voltou a Paris. Nesse retorno ela fundou o Paris Style Week, que já teve 22 turmas antes da pandemia e que agora tem ciclos de palestra on-line. Participei de dois ciclos e me apaixonei pelo trabalho dela! E foi daí que surgiu a ideia de entrevistá-la, para que você também conheça um pouco mais da visão dessa profissional incrível!

Valéria Doustaly, Paris Style Week
Foto: Gerson Lirio
Como você vê a relação entre estilos e as cidades que você já morou? Vê muitas diferenças entre as mulheres de Paris, Rio e Buenos Aires?

Sim, o estilo acompanha a cultura e meteorologia do lugar. No Rio, onde morei 7 anos, quase não tem inverno, há uma energia diferente no uso das cores. A carioca é expansiva e preocupada com o corpo. É o estilo mais alegre dentre as cidades que eu já vivi!

Em contrapartida, a parisiense tem uma elegância discreta, ela não gosta de aparecer. Essa discrição entra nas cores neutras, monocromáticos. Não existe, por exemplo, combinar mais de 2-3 cores em um mesmo look. Não que elas não saibam fazer, mas optam por um guarda-roupa mais sofisticado e atemporal, até por conta do investimento mais alto em peças de inverno. 

Aos olhos de uma parisiense, alguns looks das cariocas podem parecer vulgares, e o das parisienses podem ser considerados careta pelas cariocas, e são apenas pontos de vista.

Faz tempo que saí de Buenos Aires, mas a mulher argentina é muito preocupada com seu peso. Se fala que Buenos Aires é uma cidade “europeia” na América do Sul, e as mulheres de lá são elegantes, sabem se cuidar. Além disso, elas apreciam tendências.

Outra observação interessante é que as latinas têm seus cabelos mais longos e usam mais maquiagem, já as parisienses investem em produções em que elas não pareçam estar maquiadas, são os looks “no make-up”.

E o que você mais vê nas ruas de Paris, em termos de estilo, que não vemos em outros lugares do mundo?

A parisiense tem muita informação de moda. Jornais como o Le Monde, Le Figarro trazem colunas sobre estilo, notícias dos desfiles de moda, dos lançamentos. A França tem orgulho de suas marcas e do luxo francês. Nem todos tem condições de consumir esse luxo, mas conhecem o DNA de uma Hermès, por exemplo. Isso dá um certo discernimento do que é ser elegante.

O estilo BCBG (Bom Chic Bom Genre), por exemplo, é um estilo tradicional que quer dar significado a um certo status social. Ele personifica uma pessoa que tem muita cultura, que consome as coisas boas da França. Eu não vejo essa mulher como “careta” ela muitas vezes tem um acessório, um charme mais misterioso, ela não se mostra diretamente. Você sente que ela carrega uma autêntica história com ela. Além disso é uma mulher segura, que não parece ter feito nenhum esforço para ser chic.

No corporativo, a mulher se veste de forma mais parecida com os homens, muitas delas tem posições de poder que a mulher latino-americana ainda não conquistou.  

O seriado “Emily in Paris” levantou polemicas sobre os clichês em relação aos parisienses. Queria muito saber sua opinião!

A primeira coisa que não é real é o bullying que a Emily sofre no trabalho. Ninguém daria um apelido de “la plouc” a uma nova companheira de trabalho em uma agência de publicidade. Outra mentira é que os franceses não tomam banho, talvez isso venha dos filmes históricos. Os próprios personagens da série estão sempre limpinhos!

Outra mentira são os looks da Sylvie. Eles não correspondem à uma executiva da vida real. Os looks mais sexies seriam mais para a vida social, não para o corporativo!

Mudando de assunto, eu amei participar dos seus ciclos de palestras porque você fala sobre história da moda de um jeito leve, mas cheio de conteúdo! De onde surgiu a inspiração para criar as aulas?

Eu me descobri amando mais os artistas do que a arte! Isso fez com que eu me apaixonasse pelos estilistas e não apenas pelo legado deles. A minha inspiração vem da minha curiosidade, li muito sobre como estava Paris e sobre a 2 guerra para falar sobre Coco Chanel, por exemplo, no ciclo de palestras sobre os “10 estilistas que você deve conhecer.”

Além disso, penso nas coisas que eu gosto. Nesse ciclo, por exemplo, eu escolhi 10 estilistas que eu gosto, entre eles Azzedine Alaia, que não é tão conhecido.

No ciclo das “20 peças ícones da moda que você deve conhecer” selecionei 20 peças que eu gosto, mesmo Christian Lacroix não tendo por exemplo sido bem sucedido financeiramente.

Eu não sou o tipo de pessoa que pergunta aos alunos “sobre o que vocês querem que eu fale?” para criar meu conteúdo. Eu crio o que eu gosto e espero o público vir, por isso minhas aulas têm muita paixão!

Os 10 estilistas que você deve conhecer- Foto: Paris Style Week
Sim, suas aulas são muito leves e divertidas, sem dúvidas!

Um valor importante para mim é o “having fun”, me divertir. Isso pode parecer superficial para algumas pessoas, mas se eu não me divirto, meu público também não vai se divertir. Na preparação das aulas procuro histórias interessantes, curiosidades e perguntas que levem à reflexão.

Como você define seu estilo pessoal e quais são seus estilistas favoritos?

Meu estilo é elegante, romântico e às vezes tenho alguma coisa mais fashionista. Quanto aos estilistas eu gosto muito de Hubert de Givenchy, Karl Largefeld, Alaia e Yves Saint Laurent, e os 4 estão no meu ciclo de palestras!

Para finalizar, quais são suas dicas para quem está iniciando na carreira de consultora de imagem?

Eu tive boas experiências com a AICI, e conheço muitas pessoas que lá encontraram chances de trocas e parcerias, então recomendo fazer parte da associação. Vale muito pelo custo-benefício, você tem acesso a todas as teleclasses que já aconteceram ao longo dos anos. A primeira feita em português, em que eu falei sobre Outplacement em 2018, está lá!

A segunda dica é: trabalhe! É um mal feminino achar que você não está pronta, que é preciso fazer todos os cursos e ser uma expert. Meu conselho é que você trabalhe e vá se tornando uma expert ao longo do caminho.

Os próximos ciclos de palestras do Paris Style Week começam em 12/01 e os programas estão no site https://parisstyleweek.com/ . Eu fiz os dois e recomendo muito!

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2 comentários em “Entrevista sobre Moda, Estilo e Paris com Valéria Doustaly”

  1. Adorei a entrevista, Aysha! A dica final me “atingiu” diretamente! Sempre fico postergando uma dedicação maior à consultoria porque acho que não sei o suficiente!

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